domingo, 1 de setembro de 2013

Abrigo do Caos – uma conversa com Otávio Linhares, editor da revista Jandique

Curitiba, 31 de agosto de 2013

Uma revista? Tem o tamanho de um livro. Mas é revista. Livro! Com gravuras. Em uma edição, coloridas fusões de pessoas e árvores, uma continuando a outra; noutra, homens e criaturas imaginárias revezam-se entre as páginas; na terceira e, até a data de escrita deste relato, recente revista, as ilustrações estão dispostas como histórias em quadrinhos, enquanto um homem de chapéu e jaqueta na capa parece olhar para o leitor ou leitora, esperando as páginas serem abertas.

Ao final dos textos, o logotipo : um homem de vasto bigode, olhos fechados, cabeça levemente abaixada, o indicador esquerdo encostado na testa, o nome da publicação a sua direita – Jandique. “Há [algum] conceito estético”, afirma Otávio Linhares, editor-chefe, sobre a composição da revista;  “na segunda edição tivemos textos de quem vem do teatro, na primeira tivemos xilogravuras”.

Cada número tem sua própria estética, assim como variação dos textos. “Nossa ideia é encontrar, publicar e divulgar os autores curitibanos. Nada mais que isso” é o mote da Jandique.

“O que menos falta é escritor em Curitiba”, explica Linhares. “Estou publicando quem me pede, outro dia recebi um texto, não conheço o autor, mas gostei do que li”. Não há restrição quanto a tema ou forma, pois a intenção  “é fazer aparecer, não julgar. Que nem Manoel Carlos Karam , que problematiza forma e linguagem, e Miguel Sanches Neto, que possuí uma narrativa mais linear, significa que algum dos dois é melhor que o outro? Não, são maneiras diferentes de escrever, quero ver para onde o cara quer ir com esse mundo”. Paulo Leminski, Luci Collin, Oneide Diedrich, Carlos Machado, Assionara Souza, Alexandre França estão entre os autores publicados, mundo que abrange de contos e poemas a críticas literárias e entrevistas com pessoas relacionadas ao cenário cultural, tais como os irmãos Thiago e Frederico Tizzot da editora Arte e Letra e os donos da loja de quadrinhos Itiban, Mitie Taketani e Xico Utrabo.


Questionado sobre a face da produção literária local, Otávio responde que “a literatura de Curitiba é caótica”. Ele compara o cenário da capital paranaense com o de Rio de Janeiro ou de Bahia, e diz que não existe “uma literatura carioca. Há essa necessidade de se criar um rótulo, como se a literatura tivesse uma cara a partir do local. É mais fácil lidar com uma literatura industrial do que o caos”.


Um caos que sempre teve abrigo em Curitiba. A cidade possuiu periódicos literários, os mais célebres sendo Joaquim e Nicolau, apesar de que “a vida dos periódicos é muita curta”. “Os periódicos são marcados não só pela potência dos autores, mas pelo tempo de vida”, completa o editor da Jandique. Atualmente, a capital tem os jornais Rascunho (cuja idade ultrapassa uma década), Cândido (completou dois anos em 2013), e Relevo (em circulação desde 2010), além de outras publicações dedicadas a alguma forma de leitura. “Talvez agora faltem periódicos em Curitiba”, argumenta Otávio Linhares. Aos vindouros escritores e escritoras em busca de espaço, e aos leitores e leitoras curiosos pela produção local, bem-vindos a Jandique.