Curitiba, 31 de agosto de 2013
Uma revista? Tem o tamanho de um livro. Mas é
revista. Livro! Com gravuras. Em uma edição, coloridas fusões de pessoas e
árvores, uma continuando a outra; noutra, homens e criaturas imaginárias
revezam-se entre as páginas; na terceira e, até a data de escrita deste relato,
recente revista, as ilustrações estão dispostas como histórias em quadrinhos,
enquanto um homem de chapéu e jaqueta na capa parece olhar para o leitor ou
leitora, esperando as páginas serem abertas.
Ao final dos textos, o logotipo : um homem de
vasto bigode, olhos fechados, cabeça levemente abaixada, o indicador esquerdo
encostado na testa, o nome da publicação a sua direita – Jandique. “Há [algum]
conceito estético”, afirma Otávio Linhares, editor-chefe, sobre a composição da
revista; “na segunda edição tivemos
textos de quem vem do teatro, na primeira tivemos xilogravuras”.
Cada número tem sua própria estética, assim
como variação dos textos. “Nossa ideia é encontrar, publicar e divulgar os
autores curitibanos. Nada mais que isso” é o mote da Jandique.
“O que menos falta é escritor em Curitiba”,
explica Linhares. “Estou publicando quem me pede, outro dia recebi um texto,
não conheço o autor, mas gostei do que li”. Não há restrição quanto a tema ou
forma, pois a intenção “é fazer
aparecer, não julgar. Que nem Manoel Carlos Karam , que problematiza forma e
linguagem, e Miguel Sanches Neto, que possuí uma narrativa mais linear,
significa que algum dos dois é melhor que o outro? Não, são maneiras diferentes
de escrever, quero ver para onde o cara quer ir com esse mundo”. Paulo
Leminski, Luci Collin, Oneide Diedrich, Carlos Machado, Assionara Souza,
Alexandre França estão entre os autores publicados, mundo que abrange de contos
e poemas a críticas literárias e entrevistas com pessoas relacionadas ao
cenário cultural, tais como os irmãos Thiago e Frederico Tizzot da editora Arte
e Letra e os donos da loja de quadrinhos Itiban, Mitie Taketani e Xico Utrabo.
Questionado sobre a face da produção
literária local, Otávio responde que “a literatura de Curitiba é caótica”. Ele
compara o cenário da capital paranaense com o de Rio de Janeiro ou de Bahia, e
diz que não existe “uma literatura carioca. Há essa necessidade de se criar um
rótulo, como se a literatura tivesse uma cara a partir do local. É mais fácil
lidar com uma literatura industrial do que o caos”.
Um caos que sempre teve abrigo em Curitiba. A
cidade possuiu periódicos literários, os mais célebres sendo Joaquim e Nicolau,
apesar de que “a vida dos periódicos é muita curta”. “Os periódicos são
marcados não só pela potência dos autores, mas pelo tempo de vida”, completa o
editor da Jandique. Atualmente, a capital tem os jornais Rascunho (cuja idade
ultrapassa uma década), Cândido (completou dois anos em 2013), e Relevo (em
circulação desde 2010), além de outras publicações dedicadas a alguma forma de
leitura. “Talvez agora faltem periódicos em Curitiba”, argumenta Otávio
Linhares. Aos vindouros escritores e escritoras em busca de espaço, e aos
leitores e leitoras curiosos pela produção local, bem-vindos a Jandique.