Final de sexta-feira na rodoviária de
Curitiba, o dia lentamente começa a ceder espaço para a noite. Viajantes por ir e vir amontoam-se na metade
do estabelecimento que possui espaço para pessoas, próximo aos fundos da
rodoviária; a outra “metade” desta está ocupada por maquinário e funcionários
de uma reforma colossal, temporariamente reduzindo o espaço físico destinado ao
trânsito de passageiros e ônibus.
O caminho para a parte interna, com seus
bancos, pontos de venda e portões de entrada, é disputado, pois apressados
cidadãos trafegam de e para todo lado – o que talvez tenha sido realçado por
ser véspera de feriado, especificamente, 6 de setembro de 2013. Entre famílias
que empilham volumosas bagagens em cantos a indivíduos solitários cuja carga é
uma simplória mochila, ouve-se nitidamente a voz de motoristas que adentram
pelo portão de embarque anunciando a próxima partida, logo sumindo em meio às
vozes dos que aguardam a lotação e ao barulho de rodas de malas de viagem.
Eis que um som soma-se ao dessas, mas um
olhar revela a particularidade de sua fonte. Um carrinho predominantemente
amarelo, em cima do qual estão duas estantes de madeira, uma de costas para a
outra, ambas recheadas de livros; “Passagens Literárias”, lê-se na placa
amarela, acima das referidas estantes. Duas mulheres revezam-se conduzindo o
carrinho no salão de espera, parando próximo aos passageiros. “Olá, estamos
emprestando livros”.
Enquanto aguarda o ônibus, a pessoa pode
emprestar livros gratuitamente. É um tempo no qual cabe um passeio pelas páginas
das obras à disposição. Dos coloridos desenhos dos livros infantis (um exemplar
de O Menino Maluquinho entre eles), as crônicas de Mario Prata ou os contos de
Edgar Allan Poe, entre outras opções de viagem, o destino literário é livre,
sem cobrança de embarque nem restrição de ida.
De autoria das funcionárias da Fundação
Sidônio Muralha, o projeto acontece desde 2012. Entre 18h30 e 21hrs., nas
sextas-feiras, elas levam as passagens literárias aos transeuntes da
rodoviária. Após emprestarem um livro a alguém, o anota-se o nome deste, e o
carrinho é levado adiante.
Quem empresta não precisa aguardar a volta
das funcionárias caso queira trocar ou devolver o livro; e há pessoas que,
ocasionalmente, preferem ouvir uma narração de conto ou crônica ao invés de
ler. O destino e trajeto destas Passagens Literárias ficam ao gosto de quem
viaja.